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O Convidado de Pedra

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A Origem...

 

Tan Largo Me Lo Fiais...

A origem do nome O Convidado de Pedra remete à obra do Frei espanhol Tirso de Molina, uma peça de teatro escrita na Espanha durante o período do barroco.  O espetáculo, denominado “O Burlador de Sevilha e o Convidado de Pedra” (1617), tem como principal personagem Don Juan, aquele sedutor irresistível a qualquer mulher, reconhecido em diversas obras posteriores; vivo até nossos dias. Ao contrário do mito criado nos anos vindouros, nas mãos de Tirso de Molina Don Juan não passa de um mero leviano que tem como obsessão retirar a honra de qualquer moça, seja da nobreza  ou de qualquer outra classe social.

Conforme a obra, o pai de uma das mulheres, morto por Don Juan, volta ao mundo dos vivos de seu Túmulo. Tumba esta ornamentada com sua estátua (de pedra), para enviar o burlador para o inferno. E como fazê-lo?

Nesse momento o pesadelo começa a se concretizar e Don Juan convida o próprio esqueleto a um “jantar”, com a condição de voltar à tumba do “Convidado de Pedra” para um encontro final. Diante da insólita situação, o destemido e belo Don Juan não demonstra medo, sempre entoando a célebre frase que se repete na obra “Tan Largo Me Lo Fiais”, em português algo como, “ainda há muito tempo para me arrepender”.

Mas, uma vez na tumba, sua antiga vítima consegue empurrá-lo para as chamas, desfazendo em cinzas aquele que retirou a honra de sua filha e de tantas damas com sua sedução. Eis O Convidado de Pedra e sua missão.

Para a banda “O Convidado de Pedra” (www.convidadodepedra.com), esse cenário teatral  de destruição de mitos se mostrou muito adequado à contextualização da obra “Ídolos Ocos”. Justamente porque as composições também contestam a possibilidade atual de tantos “mitos” e “ídolos” serem gerados e descartados pelas mídias sociais e redes internacionais. Para depois serem esquecidos, como as folhas que caem das árvores durante o outono.

Assim, da primeira à última canção do álbum “Ídolos Ocos”, diversos temas atuais são colocados em foco. Diante da perspectiva de que tanto os mitos que circulam nas residências da população por meio de celulares e computadores, assim como as ideologias que trazem consigo mascaradas, deverão ser colocados à prova para justificarem sua real existência e relevância para o mundo dos homens e sua permanência e evolução. Enquanto o mundo dos homens ainda existir.   

   

 

 

A Obra...

 

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Composto por seis canções, Ídolos Ocos fragmenta o óbvio. Traz à luz possibilidades reais e abstratas que se misturam em um labirinto de sensações ligadas intimamente aos conceitos atuais de poder, ganância, violência e tentações estritamente humanas e que, em conjunto, formam um perfil psicossocial.  Esses questionamentos se estabelecem em bases pouco comuns no que diz respeito às harmonias, melodias e retórica utilizadas, muito distante dos arquétipos tradicionais deste início do século.

Desde sua duração, entonação e morfologia, as músicas definem um panorama extremante intenso e visual de um momento turbulento por que passa o homem e a humanidade diante de seus conceitos simultaneamente tão modernos e tão antigos.

O primeiro passo para entender a psicologia do universo caótico do Convidado de Pedra é penetrar o conceito da canção inicial, que não por acaso chama-se “Contrato”. Com quase seis minutos de duração, ela sugere que a cada vez que o homem se vê diante de seus elementos básicos de formação, tudo termina em chamas, seja na era das queimadas das florestas, das bruxas ou dos combustíveis fósseis. Mas tudo pode acabar “bem”... desde que todos se escondam por trás da face impessoal e coletiva: a humanidade.

Logo depois, mesmo com a sensação natural de impunidade gerada pela coletividade caracterizada pela “era da informação” e a internet, chega-se à perda. Assim, inicia a segunda canção do álbum: “Rio Sem Resposta”. Em um contexto musical clássico, o homem é colocado cara a cara com o vazio causado por alguém que parte sem dar explicação ou dizer adeus. Desaparece no ar e não retorna, seguindo seu destino. Como o rio de uma vida que não sabemos onde irá desaguar finalmente. Então a coletividade não é mais suficiente para aplacar a dor da perda de um indivíduo.

“Déspotas”, a terceira canção, traz uma sonoridade moderna, pós-punk, dance, pós-pop. Agora a banda apresenta um novo cenário, onde o solitário homem segue um caminho sem rumo, desorientado, às bordas da psicodelia e da demência. Até finalmente encontrar apoio justamente em  seus grandes rivais: a Morte, a Velhice, o despotismo interno de sua moralidade, o Diabo em si mesmo. E, como os déspotas reais, rui, relembrando de quem foram seus antepassados.

Em “Horda”, a quarta canção, O Convidado de Pedra deixa claro que a coletividade e seus mitos já não são mais suficientes para manter a raça humana “acima de tudo”. A letra traz ambientes reais de perdição humana, destruição e pestes, como houvesse uma nova Idade Média.  Ecoa no refrão “NÃOHAVEPASCORÁNATERRA”. Um neologismo ou licença poética que carrega em suas letras e fonemas a falta de perspectivas de uma interação com um deus ou algo maior que seja digno de ardor ou religiosidade. Uma abordagem musical avançada determina a quebra de paradigma entoada por Henrik Gorecky e o vocal Phoenix.  

Em “O Quadro”, outra faceta humana é deslindada. Desta vez, a paixão ardente, a loucura e suas consequências são dramatizadas sob o ponto de vista de um homem e uma mulher, com a participação especial nos vocais de Márcia Lis. Em um característico diálogo teatral, as vozes das duas personagens principais do trágico romance se misturam, se entrelaçam se amam e se agridem em meio à canção como almas do além-mundo. Feminino e masculino tentam explicar o inexplicável sentimento que os domina violentamente e determina o fim drástico. Desta vez o feminicídio travestido de joia rara...

Enfim, “Antenas”. O que restou da humanidade, mesmo com toda sua tecnologia, que parece mais determinada a contê-la do que a libertá-la? A solidão terrena que leva ao espaço sensorial e ao vácuo. Os corredores psicológicos caracterizados por arranjos particulares levam ao futuro. Mas qual futuro? Ainda existe um futuro? Rodeados de antenas, aldeões julgam dominar o mundo e são enfim e determinantemente traídos pelos anunciados Ídolos Ocos. E então o choque ocorre. Avançamos ou retrocedemos? Conquistamos ou falhamos? De era em era... não chegamos a respostas convincentes. Pelo menos até conseguirmos vislumbrar nossa civilização de um ponto de vista mais abrangente. E para isso devemos tentar encontrar as respostas nas escuridões mais profundas do Universo, ou seja, de nós mesmos. Guiados pelas “Antenas” de rádio, TV e celulares até onde a humanidade pode chegar...

Em Ídolos Ocos, O Convidado de Pedra deixa sua visão ao tempo.

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